Nossa História


Associação da Mulher Luziense “Olímpia da Luz” – AMOL

Histórico da Associação

A AMOL está situada no Município de Santa Luzia do Pará – PA na BR 316 PA/MA a 200 km de Belém, capital do Pará, no Nordeste paraense. Possui 25 sócias com idades entre 22 e 70 anos, quase todas elas mães. A maioria tem apenas o ensino fundamental, mas há sócias com nível médio e superior. Quase todas as associadas são casadas e todas são católicas praticantes. A identidade do grupo está fortemente relacionada à Igreja Católica. A atuação junto à paróquia, através de evangelização e trabalhos sociais, assim como a solidariedade mútua, são características marcantes do grupo.
A questão da violência contra a mulher, acompanhada pela impunidade dos agressores, foi determinante para o surgimento do grupo. Homens que praticavam atos de violência contra mulheres podiam até ser presos temporariamente, mas não chegavam a cumprir pena, porque os políticos locais mandavam soltar. O estopim para o início da mobilização foi o estupro de uma jovem em uma comunidade da região, em 1990. Uma série de manifestações ocorreu em frente à delegacia e outros órgãos locais.
A partir disso, sentimos a necessidade de nos reunir. Iniciamos com encontros semanais o grupo com cerca de 15 mulheres se reunia para estudo sobre a mulher na Bíblia, nos quintais debaixo de árvores pois ainda não tínhamos um lugar próprio, essas atividades eram realizadas com o apoio de duas voluntárias italianas de professores e do pároco. Em seguida, resolvemos ampliar o trabalho, incluindo estudos sobre outros temas, como saúde da mulher, violência contra a mulher, entre outros.
Daí, partimos para reivindicações relacionadas à saúde pública, que também contribuíram muito para mobilizar as mulheres. Cartazes com protestos eram confeccionados e levados às unidades de saúde e em audiências na câmara municipal. Na época, o atendimento era praticamente inexistente. A luta por serviços de atenção à saúde da mulher resultou na formação de grupos de multiplicadoras, que realizavam palestras sobre a temática. Este foi um processo que se iniciou no meio urbano, mas se estendeu para o meio rural.
A busca por alternativas em geração de renda deu início a uma nova etapa da experiência do grupo, com apoio de outros voluntários italianos nos reunimos com o vigário e pedimos uma casa da paróquia que estava desocupada para darmos continuidade as nossas atividades como artesanato, costura, bordado, confecção de bonecas, produção de remédios caseiros, além da prática de trocas entre as integrantes fazia parte de um processo coletivo de luta pela melhoria da qualidade de vida. Até esse momento, nos identificávamos como Pastoral da Mulher na paróquia de Santa Luzia.
A partir da ampliação das atividades no âmbito econômico, as mulheres sentiram a necessidade de um status jurídico que viabilizasse a captação de recursos. Em decorrência, surge a associação, que está legalizada desde 2006. Enquanto pastoral, o trabalho realizado era mais voltado para atendimento da comunidade. Ainda realizamos esse tipo de atividade, assim como continuamos tendo uma participação ativa nas atividades da Igreja, mas a partir da criação da associação, outras atividades são desenvolvidas. Hoje, temos ações voltadas para o fortalecimento do grupo, a geração de renda para as associadas e a intervenção nas políticas públicas.
Participamos dos conselhos municipais dos Direitos da Criança e Adolescente, de Saúde, da Alimentação Escolar, da Assistência Social e da Cultura, além do Conselho de Desenvolvimento Territorial. Outra atividade importante que realizamos é o acompanhamento de crianças carentes com distribuição de sopa enriquecida, mel e o peso da pastoral da criança, também acompanhamos um grupo de mulheres de um bairro carente da cidade, passando conhecimentos na área de artesanato e orientando no cultivo da horta, com o apoio da CESE.
Através da fundação da AMOL passamos a contar com vários parceiros. O MMNEPA – Movimento de Mulheres do Nordeste Paraense nos auxiliou muito, tanto nos processos jurídicos de fundação da associação quanto em cursos de formação, além do incentivo para a exposição, divulgação e vendas dos trabalhos em outros Municípios do Estado. Com o SEBRAE, conseguimos participação em cursos de formação e capacitação em corte e costura, pinturas em tecidos, técnicas de vendas e empreendedorismo. Além disso, uma ONG italiana chamada SVI (Serviço Voluntário Internacional), nos apóia na venda de nossos produtos para a Itália, que acontece uma vez por ano.
Fazemos parte de duas redes. Desde 2007, estamos na REDE BRAGANTINA DE ECONIMIA SOLIDARIA, que é uma rede formada pela junção de 22 grupos da Região Bragantina entre cooperativas, associações e grupos quilombolas com diferentes tipos de produção e que abriu as portas para participações em feiras de Economia Solidária dentro do Município, no Estado e em outros estados e países. E desde 2008, fazemos parte da RMERA - Rede de Mulheres Empreendedoras Rurais da Amazônia, que reúne grupos de mulheres da Amazônia.
Hoje como fontes de financiamento, contamos com recursos de uma emenda parlamentar, que serão utilizados para a construção da nossa sede própria, contamos também com recursos do PRONAF-B Mulher através da EMATER para aquisição de matéria prima.

As atividades de geração de renda

Corte e costura e pintura em tecido
A AMOL produz principalmente corte e costura (fabricação de camisetas e uniformes) e pintura em tecido (panos de prato, toalhas, caminhos de mesa, kits de cozinha, colchas de cama, tapetes e vestido, uniformes escolar, profissional e esportivo).
A atividade de geração de renda começou em 2006, com muitas dificuldades. A nossa primeira capacitação aconteceu com uma técnica do SEBRAE. Como o material do curso não era fornecido pelo SEBRAE, a técnica nos ajudou adiantando a compra do material para o curso. Para pagar essa dívida, realizamos várias ações como a venda de bolos e sucos na feira e bingos para arrecadar recursos.
De 2006 até o final 2008, ainda estávamos nos capacitando através de vários cursos. Até esse momento, a renda gerada pelas vendas ficava limitada a cobrir as despesas com os materiais. No final de 2008, também com ajuda do SEBRAE, aprendemos a calcular os preços dos produtos e a mão-de-obra. A partir daí, decidimos dar um incentivo às sócias, repassando recursos de acordo com a produção de cada uma. Hoje, temos 12 máquinas de costura, uma máquina de estampar, uma máquina de corte de tecido, dois computadores e um pequeno capital de giro, suficiente para o pagamento de despesas de energia, água, manutenção dos equipamentos.

Panificação
Havíamos conseguido, em 2002, os equipamentos para uma padaria com a Secretaria da Assistência Social. Como não tínhamos CNPJ, contamos com a parceria do Pe. Emanuel filho que nos cedeu o da Paróquia, sem muito sucesso a panificadora ficou parada. Em 2009 a partir de uma proposta da Secretaria de Educação, passamos a fornecer pães para a merenda escolar, através de venda direta. Com a renda gerada pela padaria, conseguimos remunerar as mulheres nessa atividade e já incrementamos a padaria com a compra de uma balança digital.

Horta
Também temos uma horta na sede da associação, onde produzimos verduras e frutas (cebola, couve, quiabo, cariru, maracujá, macaxeira, goiaba, limão, entre outros), que usamos para nossa alimentação e vendemos o restante, geralmente na própria sede da associação. Quando a produção é maior, chegamos a vender na feira.

Uma das nossas maiores dificuldades nas atividades de geração de renda é a legalização para fornecimento de nota fiscal. Hoje, utilizamos notas fiscais avulsas da SEFA, mas o limite é muito pequeno (R$ 6.000,00 por ano). Isso dificulta muito até mesmo os planos de buscar novos mercados para nossos produtos.

Relações de gênero

A maioria das mulheres do grupo sofrem com o machismo. Antes de sair para as atividades do grupo, elas tem que deixar todas as tarefas domésticas já realizadas e quando há treinamentos de um dia inteiro, precisam ir para casa na hora das refeições, pois os maridos não aceitam dividir o trabalho doméstico. As mulheres têm dificuldade de identificar outros tipos de violência, além da violência física.
Ainda há essas e outras barreiras, porém percebemos que as relações entre homens e mulheres melhoraram bastante, principalmente depois que as mulheres começaram a obter alguma renda. Além de trabalhar na Associação, algumas mulheres trabalham por conta própria a partir do aprendizado adquirido dentro da Associação. Isso é bom para aumentar a renda das sócias, mas ao mesmo tempo, prejudica o grupo.
A participação nos conselhos também é importante para as mulheres, que estão cada vez mais sabendo reivindicar seus direitos e procurando obter mais conhecimentos em várias áreas.

Pensando o futuro
Em 2010, esperamos construir nossa sede, comprar mais máquinas, adquirir mais matéria prima e aumentar a nossa produção. Além disso, vamos batalhar para a legalização para poder entrar no mercado de maneira mais segura. Também pretendemos iniciar uma capacitação em biojóias para as filhas das sócias. Hoje essa aproximação é difícil, mas se conseguirmos vai ser positivo também para a discussão sobre gênero.